Como você gostaria de ser tratado quando precisar de atendimento médico?
ANÁLISE CRÍTICA REFLEXIVA
Dra Cléo de Siqueira Etges, especialista em Medicina do Trabalho com abordagem em Medicina Integrativa
Ao longo do tempo, a humanidade evoluiu com avanços tecnológicos impressionantes, e a relação médico-paciente tem grande importância como meio essencial e complementar a essa evolução tecnológica. No início, a Medicina Ocidental era uma ciência essencialmente humanística com uma visão holística, que entendia o homem como um ser dotado de corpo e espírito. O médico aliava conhecimentos científicos e humanísticos na prática médica, isso foi gradativamente sendo substituído pela solicitação e execução de exames mais modernos e medicamentos mais eficazes, mudando para uma abordagem baseada apenas em evidências clínicas e tecnológicas para o fechamento do diagnóstico e tratamento.
Na medicina atual, tem aumentado a insatisfação com a relação médico-paciente que foca somente na doença e segue protocolos estabelecidos para todos os pacientes com mesmo diagnóstico. Aumenta a cada dia a procura por uma medicina que considere a pessoa como um todo, com uma abordagem de todos os aspectos que influenciam o processo de doença e cura e que os permita participar ativamente de todo o processo de tratamento.
Ainda assim, a natureza humana é propensa a esquecer de antecipar mudanças até a situação realmente ficar péssima e até estar desconfortável o suficiente para não poder mais prosseguir com as atividades normais. A maioria das pessoas que procuram uma abordagem da Medicina Integrativa ainda é de pessoas com uma doença grave instalada, numa busca desesperada por uma melhora, na maioria das vezes em busca de uma sobrevivência e não de uma vivência satisfatória com mudanças definitivas no estilo de vida.
Minha experiência pessoal como médica que se torna paciente em determinado momento da vida, foi perceber como nossos atuais sistemas e modelos de realidade na área da saúde em hospitais considerados referência precisam de algo novo na assistência ao paciente. É muito comum, médicos com ótima formação, considerados referência em suas áreas desconsiderarem completamente uma abordagem holística do paciente. Com uma formação tecnicista decorrente de um sistema de ensino alienante, centrado na concepção biológica e referenciado em sofisticação diagnóstica, no qual a clínica perde espaço para a valorização de médicos muito especializados, começamos a entender a não participação, a passividade, a indiferença, o alheamento às evidências científicas sólidas de que a Medicina Integrativa é eficaz. Sem negar os fatos desconsideram os efeitos em seus pacientes que adotam medidas como mudanças no estilo de vida, por vezes, desmotivando-os. A alienação a que o processo nos conduz leva à busca de uma onipotência que a ciência e o domínio de suas verdades parecem nos oferecer.
Estamos morrendo tecnologicamente bem assistidos. Mas até quando viveremos tão distanciados de nossas raízes animais da terra, da água, da natureza, da conexão corpo mente? Não há esforços significativos para educar o homem em sua alimentação, sua atividade física, sua integração social e sua reflexão mental, o que, comprovadamente, gera excelentes resultados e sobrevida.
É fundamental, além de uma revisão da formação dos profissionais de saúde, para mudar a maneira como as doenças são tratadas e como esses profissionais podem atuar de forma preventiva, antecipando a instalação da doença e principalmente a sua recorrência, a educação sobre passos práticos que qualquer pessoa possa empreender para fazer mudanças em nível de corpo e mente que levarão a resultados duradouros para um caminho em busca da saúde integral e de uma consciência mental mais expandida, onde cada pessoa seria responsável por sua própria saúde. Como citou Carl Jung, “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana seja apenas outra alma humana”.
Todos em algum momento de sua existência precisarão de cuidados médicos e como você gostaria de ser tratado nesse momento? Como apenas um número seguindo um protocolo preestabelecido ou como um ser único, dotado de inteligência, ciente de suas habilidades, responsabilidades e com consciência da capacidade inata do corpo de autocura através de inúmeras possibilidades de autocuidado?
Diante de tudo isso, desejo que todos recebam tratamento humanizado, holístico e integrativo.
https://santeocupacional.com.br/sante-medicina-integrativa/
REFERÊNCIAS
- PESSOTTI, I. A Formação humanística do médico. Medicina, Ribeirão Preto, v. 29, n. 4, p. 440-448, out./dez. 1996.
- LIMA. P.T. Bases da Medicina Integrativa. 2ª ed. Barueri. Ed. Manole, 2018, Capítulos 1 e 2.
- NASCIMENTO JR, P. G.; GUIMARÃES, T. M. M. A relação médico-paciente e seus aspectos psicodinâmicos. Bioética nº 11 de 27/11/2003, Pg. 101.
- CHAVES, M. M. Complexidade e transdisciplinaridade: uma abordagem multidimensional do setor saúde. Rev. bras. educ. med. vol.22, n .1. Brasília: Jan./Abr.1998.
- PAZINATTO, M. M. A relação médico-paciente na perspectiva da Recomendação CFM 1/2016. Rev. Bioética. vol.27 n .2, Brasília: Abr./Jun. 2019.
- DISPENZA. J. Quebrando o hábito de ser você mesmo. 3ª ed. Porto Alegre: CDG, 2019, Capítulo 1.